"[...] o inóspito, árido e descurado processo encontra-se estreitamente relacionado com as correntes espirituais dos povos e [...] as suas diversas concretizações devem ser incluídas entre os mais importantes testemunhos da cultura" (F. Klein (1902))



14/02/2015

Bibliografia (64)




Vásquez, C. (Ed.), Estándares de prueba y prueba científica / Ensayos de epistemología jurídica (Marcial Pons: Madrid/Barcelona/Buenos Aires/São Paulo 2013)



A obra – publicada na prestigiada colecção Filosofía y Derecho da editora Marcial Pons – contém as intervenções proferidas num workshop realizado em Maio de 2011 na Universidade de Girona. Trata-se de um conjunto de textos de autores de renome de enorme interesse sobre alguns problemas relativos à prova no processo civil e penal (ver índice). Cada texto contém no final a respectiva bibliografia, o que facilita leituras complementares.

Um dos temas fundamentais tratado na obra é o “grado de prueba”, isto é, o standard mínimo que permite que o juiz considere um facto provado. Na jurisprudência e na doutrina portuguesas, é habitual referir os graus de prova à prova stricto sensu, à mera justificação e ao princípio de prova. A cada um destes graus de prova corresponde uma medida de prova definida pela lei: na prova stricto sensu, o juiz tem de adquirir a convicção da verdade do facto; na mera justificação, basta a convicção da plausibilidade do facto; no princípio de prova, não é sequer atingida a convicção da plausibilidade do facto.

Afirma-se na obra que “a análise, e inclusivamente a consciência da necessidade, dos standards de prova, é muito pouco comum nos sistemas de tradição romano-germânica” (C. Vásquez, 13). Trata-se de uma afirmação algo discutível. A título de exemplo, em MünchKommZPO/Prütting (2013), § 286, são referidos 31 títulos sobre a medida da prova e 17 sobre a prova prima facie, sendo certo que se trata apenas de uma escolha dos títulos mais significativos em língua alemã. A bibliografia sueca também é rica em reflexões sobre a medida da prova (cf. Gärdenfors/Hansson/Sahlin (Eds.), Evidentiary Value: Philosophical, Judicial and Psychological Aspects of a Theory (1983)). 

A obra espelha – até pela origem de alguns dos seus autores – algumas orientações que têm sido discutidas no sistema anglo-saxónico e, em especial, norte-americano. A possibilidade de facultar a juristas de civil law o conhecimento de reflexões de juristas e filósofos provenientes do sistema de common law constitui um dos motivos de interesse da obra.
 
Em suma, pela sua riqueza temática trata-se de uma obra muito útil para quem queira aprofundar conhecimentos e alargar horizontes na área da prova em processo.

MTS